sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011 ESTÁ PARTINDO


Como Viver Mais?

                    'Foi observando alguns animais em cativeiro e percebendo algumas mudanças em meu corpo que eu decidi procurar a cura para os males da mortalidade precoce.
                    Como pode uma arara viver 60 anos em cativeiro, sem a possibilidade da opção e sem o livre arbítrio, enquanto o homem tem a liberdade e o livre arbítrio e vive apenas 70 anos? O que fizeram as tartarugas para viverem mais de cem anos?
                    O que fascina é saber que as tartarugas levam trinta anos para atingir a idade adulta. Trinta anos de adolescência e de juventude. Se fossem humanas elas poderiam cursar mais duas faculdades antes de entrar no mercado de trabalho.
                    Porque as árvores mais velhas e mais robustas são aquelas que estão nas planícies ensolaradas ou nos topos áridos da montanha? Por que a abundância de sombra e até de água não é sinônimo de vida longa?
                    Se assim o fosse, as minhocas, as bananeiras e os lambaris viveriam muito mais que as formigas, os cupins e as tartarugas. Por que determinadas doenças só atingem aqueles que vivem mais tempo ociosos, sedentários, no conforto de um lar ou de um escritório refrigerado?
                    Por que, com o tempo, meu cabelo da cabeça vai caindo, enquanto aumentam os pêlos do restante do meu corpo e, estranhamente, surgem e aumentam os pêlos do meu ouvido e do meu nariz? O que isso tem a ver com a ação natural de nossa gênesis biológica ou com a nossa mudança de hábitos?
                    Eu posso viver mais, controlar as futuras doenças do meu corpo, reduzir a queda do meu cabelo, mudar a minha fisionomia ou robustecer os meus órgãos internos e as minhas alavancas de locomoção e contato?
                    Eu posso parar de fumar, de consumir bebidas alcoólicas ou drogas pesadas? O que devo fazer para aumentar em dez anos, pelo menos, o meu tempo de vida aqui na Terra?

Os macacos têm denso pêlo sob o sol e a chuva
                    Todos nós já observamos que os animais têm alguma forma natural de se proteger do frio, do calor, da chuva, das intempéries naturais. Os grandes peixes, que se locomovem pouco e, portanto, não produzem muito calor, têm uma robusta pele que cobre uma grossa camada de gordura.
                    Os pássaros têm uma cobertura de penas que o protegem contra o frio dos largos e necessários vôos. Os animais da terra se protegem de todos os jeitos. A maioria tem uma espessa cobertura de pêlos, outros trazem uma carapaça, como os anfíbios, as formigas, as baratas. Cada um encontrou o caminho da sua proteção.

O que o sol tem a ver com os meus cabelos?
                    Eu tenho ouvido conselhos de esteticistas e propagandas de beleza que me orientam a evitar o sol. Como se essa magnífica fonte de calor e de energia pudesse deteriorar meus cabelos, reduzir a sua abundância ou apressar a sua extinção.

A humanidade produziu a caverna, o raciocínio e a calvície
                    Estranhamente, nós somos o único ser vivo, dentre milhões de espécies, que fica sem parte dos cabelos da cabeça após a idade adulta. E porque será que a calvície é uma degeneração biológica exclusiva do homem?

Os animais e os índios não comiam açúcar
                    Durante milhares de anos não existia o açúcar produzido em escala industrial, que se transformou numa febre de consumo e está matando a humanidade como um inseticida extermina formigas.

Como é bom dormir nas cavernas
                    Quando vivíamos em cavernas, a cerca de dois milhões de anos, a hora do sono chegava compulsoriamente junto com a despedida do sol e o despertar se dava no instante de sua luminosa chegada.

Os sintomas da morte vêm pelo prazer
                    Eu fumava quatro maços de cigarros por dia. E, nas noites em que eu saia para consumir bebida alcoólica, eu fumava mais dois maços. Um horror. Decidi parar de fumar.

A fraternidade é o elixir da juventude
                    Os animais da floresta, mesmo agindo como predadores como fonte de alimentação, eram fraternos em seu próprio bando. A formigas não se devoram entre si, nem os pardais, nem os lobos, nem as tartarugas, nem os tubarões.

Você me fez pensar em voltar a pegar as estrelas
                    ‘Eu andava brigando com os meus ancestrais. Não imaginava que todo o meu corpo, a minha fisiologia, toda a memória milenar gravada em meus genes e toda a minha beleza foram adquiridas em milhões de anos de andanças ácidas, perversas e adversas de meus antepassados.
                    Nunca imaginei que o pequenino mamífero lá do Carbonífero, quando lutava com o predador mais feroz, estava acumulando essa minha herança genética de irreverência e valentia a favor da vida. Como saber que o meu jeito valente de encarar os problemas cotidianos, de não levar desaforo para casa, minha teimosia em não desistir frente ao primeiro obstáculo e a minha profunda aversão ao mais forte humilhar o mais fraco estivessem ligados umbilical e geneticamente à luta daquele pequeno mamífero que se transformou em petróleo no pré-sal da terra que outrora era floresta e água?
                    Você me fez sair da pré-lama dos meus rios encantados. Na verdade, o encanto estava apenas na superfície. É que eu já descera o suficiente para conviver com as larvas de peixes acéfalos que vivem nos abismos dos rios mais profundos e não percebera que guardava apenas um vestido humano de fêmea insatisfeita. Mas, inocentemente, me tornara um inquilino submerso nas águas pobres da perversão e do medo. Eu não sentia mais o abraço morno do sol, não percebia quantas estrelas adornavam o céu e sequer admirava a ancestral beleza dos mesmos rios que ajudei a criar, a partir de pequeninas e infinitas lágrimas que foram se juntando nas encostas das montanhas e nos vales mais profundos.
                    Eu percebi que você me retirou da falsa casca em que me escondia e, inocentemente, aceitei que a chamassem de civilização. De forma arrogante e numa profunda falta de gratidão passei a utilizar teus restos mortais milenares como combustível para os meus possantes deslocamentos em terra e ar. Do pré-sal te retirei e depositei no tanque do meu carro que cuspiu dióxido de carbono no rosto anônimo do meu semelhante. Eu não passava de uma máquina humana, onde o que me diferenciava de um artefato tecnológico era a minha respiração. E até essa diferença forte entre a mulher e a máquina estava em processo de extinção porque eu não fora capaz de cuidar do próprio ar que respirava. Eu vomitava os meus supérfluos no primeiro córrego que encontrava e permitia que fábricas de inutilidades fizessem do ar das manhãs um lugar próximo do poluído e podre inferno de Dantes’.

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