quarta-feira, 27 de julho de 2011

FALANDO DE CRUZ NA CASA DE JESUS


Nos próximos dias os pequenos agricultores de 17 municípios acreanos vão iniciar movimentos de protesto contra a decisão da Justiça Federal em permitir o desmate e proibir as queimadas em suas propriedades. Esse debate, mesmo com a proibição das queimadas, vai arder na Assembleia Legislativa.

Vou logo aqui indicando o caminho que vou trilhar nesse debate. Apesar de minha formação ecológica consolidada, vou me posicionar pelo caminho do meio, entre a preservação da floresta e a sobrevivência do homem que nela habita. E sempre procurando ser coerente, como fiz no ato descrito abaixo.

Participei do ato de lançamento do Plano de Combate às Queimadas e Incêndios Florestais. Na plateia estavam presentes autoridades da área, funcionários dos órgãos de controle e ambientalistas. Não havia fazendeiros e nem agricultores. Um político profissional não faria o discurso que eu fiz. Se não, vejamos:

Meus amigos,

Esse debate talvez seja o mais difícil que a gente vem enfrentando nos últimos trinta anos. Talvez seja o tema que mais necessite de equilíbrio. É que eu conheço pessoas que criminalizam, em qualquer circunstância, o corte e a morte de uma árvore, mas não criminalizam a morte de um feto no útero de uma mãe, através de um aborto.

Por isso que eu acho que deve ter equilíbrio. E vou aqui dar um exemplo. Estão proibidas queimadas em 17 municípios do Acre, inclusive em minha querida Tarauacá. A justiça permite que o pequeno agricultor desmate um hectare, mas não permite que se queime a mata derrubada.

Ora, com a derrubada da floresta, os animais e os pássaros são expulsos do seu habitat. Centenas de árvores e plantas são aniquiladas, destruindo a possibilidade de, no futuro, se utilizar o princípio ativo de uma delas para a fabricação de remédios, que podem curar doenças graves que surgirão. Só não pode queimar.

Assim, um agricultor das cabeceiras de um rio que venha a queimar um hectare de floresta derrubada é tratado como criminoso, enquanto um adolescente, filho de bacana, pode tocar fogo num mendigo que dorme debaixo de uma ponte e sair impune.

É que a lei tem regra única para quem queima um vegetal, mas gradua a punição para quem tira uma vida. Se não tiver dezoito anos, o criminoso pega uma pena menor, de caráter educativo, não vai para a penitenciária.

Dito isso, eu considero que essas iniciativas de combate às queimadas só tem sentido se vierem acompanhadas de ações que garantam ao pequeno produtor uma forma de viver, produzir e sustentar os seus filhos sem queimar a floresta.

E o melhor exemplo é a decisão do governo Tião Viana de investir, através do empréstimo do BNDES, cerca de 200 milhões de reais na área produtiva, especialmente aquela que evita a destruição da floresta, como os 50 milhões que serão investidos em mecanização.

Aí eu vou entender que ninguém, aqui, valoriza mais um vegetal do que uma vida humana.

Muito obrigado!


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