domingo, 30 de janeiro de 2011

A Minha Catedral


Escrevia o discurso de líder para abertura dos trabalhos legislativos quando, meio sem querer, passei os olhos sobre a imagem da Catedral de Cruzeiro do Sul, postada em Ecos Socialistas para homenagear dois escritores da minha terra da farinha.

A minha mente, como um adolescente, foi dominada por lembranças que se perdem pelos caminhos do tempo e voltam meio partidas, meio desconectadas, como se o cérebro fosse uma memória Ram, de acesso aleatório, enferrujada e incompleta.

Lembrei das minhas primeiras missas e dos nossos amores, da fila para receber a Hóstia, como se o Corpo de Cristo permitisse passar por entre dentes podres, saliva lasciva, língua torta, vontades perdidas no tempo das sentenças sem rumo e das profecias com gosto de morte.

Foi assim, olhando aquela foto morta, como se Lázaro fosse mais imponente que Jesus em seu sepulcro fétido, aguardando a vinda do profeta que não curou as feridas tão sentidas do lugar. Foi assim que eu fui escrevendo, como relâmpago, essa poesia, como se a minha catedral salvasse minha alma e limpasse o meu corpo.

Aquela catedral testemunhou a luta eterna entre o céu e o inferno, entre os ricos e os pobres, entre a avenida e os charcos da periferia, entre a alegria da vida e a morte. Uma catedral que venceu o meu tempo genuflexo e de perdão, que abraçou minhas causas perdidas e não permitiu que os vermes cantassem naquele altar.

Aquela catedral, como uma freira, soube ser mãe e prostituta, porque perdoou as maldades humanas e não aguardou que o pão fosse primeiro repartido. Como se no confessionário fosse permitido vomitar sobre as vestes brancas de Deus todas as nossas doenças humanas e as nossas perversões.

Uma catedral que recebeu os meus sonhos, a nossa adolescência de fogo, as nossas utopias sem base jurídica ou filosófica, que nos inquietou com seus pórticos europeus e caboclos, sem jamais aceitar que Deus estava ausente na hora primeira que senti a tua dor.

Naqueles bancos de verniz envelhecido e imagens de santos tristes eu ganhei a alegria de sonhar, de perseguir o impossível e rir do terror do cotidiano, que enterra desejos tão sadios como uma criança recém-nascida e mata as luzes de qualquer que seja o altar.

Sob aqueles cânticos graves, como um conselho de pai, nós construímos nossas primeiras muralhas contra o medo e abrimos as primeiras portas que a humanidade guardou para a elite, como se os pobres fossem condenados a dormir nas planícies.

Aquela catedral nos ensinou a arte da sobrevivência e de como encantar o tempo velho das desesperanças e amar sempre com o vigor das manhãs as coisas encantadas que alimentam o nosso coração.

Entre os seus perfumes de rosas e homilias velhas, como uma catedral, nós nos tornamos lobos e homens, descobrimos a manha de todos os demônios e quase conquistamos um pedaço das asas dos anjos.

E se o mundo continua nos meus olhos como uma terra de irmãos é porque eu aprendi a amar mais e nunca perder a ternura, lá na minha catedral.

2 comentários:

Elianne nery disse...

Olá bom dia!
Vi aqui somente para agradecer vc pelo imenso carinho com minha pessoa.vejo que vamos nós dar super bem que vc é uma pessoa cearese,eu também sou mais me sinto uma acreana pois vi de lá recem nascida morava em RIO BRANCO,agora estou morando aqui em TARAUACÁ em fim é isso.

add vc na minha lista de BLOS.

xeruus....

Rosangela Barros disse...

Prezado Deputado,

Passei aqui apenas para fazer um breve elogio ao senhor (na sua escrita) e ao seu fantástico Blog, mas ainda à belíssima imagem da sua (somente sua não: minha, nossa, lol) Catedral, lá eu também aprendi muito sobre a arte de amar!... Meu único pecado é o preconceito pelos políticos partidários, mas quando eu livrar-me desse terrível pecado, gostaria muito de conversar pessoalmente com o senhor!... Parabéns pelo Blog e por sua sensibilidade na arte de expressar seus sentimentos telúrico!...

Felicidades na vida e sucesso na política!...