sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A DAMA DO MACAUÃ

Conheci dona Alaíde Pinheiro no ano de 2006, através de sua filha Silvânia Pinheiro. Surpreendeu-me o vigor, a alegria, a irreverência e a leveza daquela Dama do Macauã. Dedico a ela esta poesia, como se fosse escrita pela Sil e pela Vânia.


Mãe.

Você nem está aqui para que nós possamos te abraçar. Agora você nos prega esta peça: foi, assim de repente, viver com Deus. Hoje nos sentimos perdidas no meio desses homens e dessas mulheres que se tornaram RGs e CPFs, como se o ser humano não tivesse alma, apenas conta bancária e cargo público.

Aqui somos tão poucas a chorar, a abraçar os mais pobres, a compartilhar. E nós nem sabemos mais se ainda estamos entre elas. Nem sabemos se a nossa alma ainda está iluminada dos tempos em que compartilhar e ser solidário era a ação mais grandiosa do homem e da mulher.

O tempo é tão veloz, tão exigente e pragmático, que o orvalho está desaparecendo, consumido por imensos blocos de concreto e a lua disputa inconsolável o seu espaço com as grandes luminárias artificiais.

Você nos ensinou a olhar o mundo de um jeito terno. Diariamente, imensas nuvens de poder e de cobiça devoram a nossa simplicidade e nos tornam um mamulengo do capital que destrói e mata. Sentimos vergonha das nossas covardias e dos nossos medos de amar com plenitude os seres humanos que sofrem nesse planeta de privilegiados.

Queríamos poder te abraçar, como nós fazíamos, quando nos escondíamos nos teus braços, quando papai tirava o seu cinturão para corrigir as nossas estripulias. Sentimos falta do teu sorriso e do teu abraço, dos teus conselhos e das tuas preocupações.

Você era como chuva que cobria a todos sem distinção, nos amava com calma e firmeza e nos ensinava as primeiras palavras da solidariedade, do amor e do tratar bem o próximo.

Você não dizia, você cantava, não era pós-doutora, mas nos ensinava com o exemplo, com o olhar, com a simplicidade de dividir o pouco entre tantos, de cobrir tantos com tão poucos lençóis.

Você foi uma mãe espetacular!

Diz aí baixinho pra Deus que a humanidade já não aguenta mais de tanto sofrimento, tantas mortes bárbaras, inocentes torturados, seviciados, gente sem casa para dormir uma noite e sem pão para cobrir uma parte do estômago.

Diz aí baixinho pra Deus que nós nos perdemos e não estamos conseguindo achar o caminho de volta, do tempo em que a gente amava de verdade e estendia a mão, que sabia compartilhar e conseguia ser irmão.

Mãe!

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