sábado, 6 de agosto de 2011

Que a tua mão esquerda...


Eu acabara de ser eleito para o nosso primeiro mandato de deputado estadual, ano de 2003. Uma tarde ensolarada, eu estava em frente à Assembleia Legislativa do Acre quando, como um pássaro ferido, um senhor se aproximou:

- Moço, como eu faço para falar com um deputado?

- Acho difícil você encontrar um deputado agora, respondi.

A minha resposta foi meio que um ato de covardia (talvez para fugir de um provável problema) ou como resposta arrogante ao meu anonimato, considerando que ele não me reconheceu. O certo é que dei uma resposta que não devia e não me identifiquei.

Então, sem nenhuma encenação, o homem começou a chorar. Perguntei o que estava acontecendo. Ele balbuciou:

- Minha mãe acabou de falecer no Paraná e eu não tenho como comprar a passagem para ir vê-la antes do sepultamento.

Um calafrio percorreu o meu corpo e senti uma dor imensa, inexplicável, como se aquele homem fosse meu irmão. Liguei para a nossa empresa de viagens e autorizei uma passagem aérea para o destino daquele meu irmão desconhecido. De ônibus, quase quatro dias de viagem, ele não chegaria a tempo de beijar o rosto pálido de sua mãe.

Aquele estranho insistiu em saber quem eu era, eu disse que era um amigo e ele mais nada falou.

Ele me abraçou e saiu, um sorriso nos lábios, lágrimas ainda nos olhos, daqueles sorrisos que servem apenas para acalentar uma dor que não se cura.

Ele nunca soube que eu era deputado, daqueles que ele procurava. Talvez, até hoje, eu não tenha sido deputado, porque meu coração ainda não se acostumou com as luzes, porque elas estão lentamente matando as minhas raízes amargas do tempo da escassez.

Um tempo de muito sol e trabalho juvenil nos roçados com os meus irmãos!


6 comentários:

amor disse...

Bom, ainda estou emocionada, mais compreendo o que você quiz dizer, sinto-me como esse rapaz, bati em muitas portas, ouvi um depois você me procura e outros nem me receberam por sinal, mas o que tirei de ensino disso tudo, os que pensei serem amigos...rs...nem fizeram a maior questão de escutar meus problemas, amigos esses que eu ajudei a chegar onde estão, mas tudo, serve pra eu aprender, que nesses meus 27 anos não conheci verdadeiros amigos, e que de hoje em diante vou procurar selecionar aqueles que eu julgo serem amigos...Obrigado, podes contar comigo, pode ser qualquer hora, lembre-se que além da minha gratidão tens ainda a minha admiração..

@eutogorda disse...

Belas palavras, diria que são até tocantes, mas não vejo sentimento nelas, simplesmente belas palavras vazias...

MOISÉS DINIZ disse...

@eutogorda,

Fui lá ver teu perfil. Você não está gorda!

Sobre as tuas palavras, eu entendo. As pessoas só enxergam a casca, a roupa, o cargo. A alma a gente nunca vê.

Abraços,

Moisés Diniz

@eutogorda disse...

pois é, enquanto vivemos em sociedade as pessoas veem o que queremos q elas vejas e dificilmente se conhece a alma, mas a alma influencia diretamente em nossa postura enquanto pessoas de bem, não acha?

MOISÉS DINIZ disse...

@eutogorda,

Acho também isso. Entre nós e os macacos ou os lobos não há nenhuma diferença. Estamos sempre a defender a nossa horda e a proteger a nossa caverna.

Não temos tempo para perceber que o corpo do outro também necessita das mesmas coisas que necessita o nosso. Somos uma sociedade dos espelhos, só vemos o nosso corpo, nossas necessidades.

E quase sempre não vemos a nossa alma, muito menos a do outro.

Ah! Por que você não atualiza seu blog? Você escreve muito bem.

Abs,

Moisés Diniz

@eutogorda disse...

não tenho paciência de postar, ou até mesmo ficar em um foco só, prefiro vagar pelas postagens alheias e sobre elas estabelecer meu ponto de vista.