domingo, 28 de novembro de 2010

FALLUJAH

Republicado em homanegem à visita de Nahida Tamimi

Fallujah tem a mesma quantidade de habitantes do Acre. Seu povo decidiu expulsar os americanos. Em dois dias, as tropas de Bush empilharam 600 cadáveres, dos quais 243 crianças iraquianas. Mesmo assim Fallujah não caiu!

Ela nasceu como um hematoma que a tropa de choque fez questão de esconder. Então a mãe derramou lágrimas no ombro da vizinha, esta se escandalizou, quem passava ouviu o barulho incômodo das lágrimas, quem ouviu percebeu a impaciência da dor. Fallujah está fora da ordem, fora de toda ordem mundial. Bush está assustado! Terrível não é perder a guerra, angústia é perder a eleição. Bush (já derrotado) olha Aznar. Bush descobre que invadir a casa dos outros, matar, mentir sobre armas proibidas, dá azar, dá zebra eleitoral, dá Aznar!

Meninos se vestem de tanques, homens se tornam a própria dor. Fallujah dividiu as águas do tempo, nos levou todos pra lá. Fallujah fez do planeta um lençol, onde o detalhe espetacular é o buraco que Fallujah fez no império. Donos de poços de petróleo, multinacionais, mansões que mais parecem a casa de Deus, latifúndios, riqueza sem fim. Magnatas tentam explicar o que acontece em Fallujah. Mulheres se vestem de lua, velhos se vestem de sol. Bush, Blair, Berlusconi, bobos, babacas, Aznar, asnos, Sharon. Atônitos estão com Fallujah, a terra que luta com pedras, a terra que se veste de sol.

Primeiro foi a festa de mísseis, bbc, cnn, globonews. As divisões de Saddam se espatifaram no chão. Os ricaços do planeta riam sob doses de vinho caro, faziam questão de não ver o sangue raro de crianças, velhos, grávidas iraquianas. Depois foi a humilhação do presidente do Iraque sendo arrastado de um buraco. A elite riu como uma hiena, comeu até a madrugada, como se fosse uma lagarta. Eles não esperavam Fallujah!

Fallujah é o encontro de todas as raivas, todos os medos que rondam a humanidade, todas as dores sob o terrorismo de estado, todas as humilhações infligidas pelo ocidente cristão. Até o Papa pediu rezas contra o terrorismo islâmico, esqueceu o santo papai que o terrorismo de estado ocidental já matou friamente mais que todas as guerras do homo erectus. Vietnã, Coréia, Argélia, Haiti. Cabul, Kosovo, Bagdá. O santo padre (já falecido) treme de Parkinson, mas não treme de dor, junto com as 243 crianças que morreram, em dois dias, em Fallujah.

Agora é Fallujah! Pinte a sua camisa, escreva Fallujah! Faça uma peça teatral, uma tela, ensaie o novo século, o novo milênio. Adentramos o século do diálogo, da tolerância, o século de todos, mas Bush entrou na contramão, Blair ajudou, Sharon, Aznar, Berlusconi. Líderes de minorias, minorias abastadas, apodrecidas, bastardas. Fallujah fala por todos nós. Fallujah pequenina é golpe de punhal no ocidente republicano, unilateral. Fallujah é diálogo de pólvora, meninos que se vestem de chumbo, ódios que derretem ao sol.

Depois de Fallujah, o mundo se volta para si, suas dores, suas angústias. Descobre que essa matilha assassina - esses abutres que, além de abutres, são criminosos – não cessará sua fome sinistra por mais riqueza, acumulação. Em todos os cantos da terra, eles se vestem de homens, limpos, perfumados, mas não passam de porcos, escorpiões, a sugar o último alento dos pobres. A eles não importa os milhões de aidéticos africanos, os leprosos latinos, a tuberculose que volta, a cocaína, os suicídios. Eles se alimentam da fome monstruosa, da lepra, da aids, da pedofilia.

Fallujah abre o século trazendo a prova: enquanto existir patifes como Bush haverá Coréias, Vietnãs. É a constatação de que o homem é a sua própria dor. Fallujah é a garantia de que não há domínio eterno, de que a hegemonia se quebra no detalhe do terreno. Aquelas 243 crianças assassinadas em dois dias pelos canhões americanos nascerão amanhã. Numa escola em greve, numa camiseta de rua, numa bandeira, numa romaria. Fallujah não é só esperança. Fallujah é certeza, é hoje vestido de amanhã.

Fallujah!

Um comentário:

Joana D'Arc disse...

Moisés,Universalismo Solidário ALEAC!
Este Evento Universalista Solidário
'Inaugurou' Nova Fase Legislativa...
É Perfeitamente Possivel Convivências
em Diversidades Humanas...Todas Elas!
Parabéns Pelo Evento Plural...

Eu Sou,Joana D'Arc Valente Santana