sexta-feira, 26 de março de 2010

Comunistas de aço e de paixão


Discurso que fiz na Assembléia Legislativa do Acre
comemorativo ao aniversário de 88 anos do PCdoB

88 anos é um tempo largo. Quantos de nós gostariam de chegar até lá. Essa é a idade do velho PCdoB, com os seus cabelos brancos e a sua rebeldia.

Nesses 88 anos sentimos orgulho pelo tempo de luta e de resistência.

Mas também sentimos remorso pelos que caíram por nossa culpa, pelos que verteram sangue inocente nas lutas do povo brasileiro, na guerrilha e na luta dos sem-terra, dos indígenas, dos negros, dos religiosos combatentes, dos camponeses, daqueles que não viram o seu filho crescer.

Nesses 88 anos sentimos orgulho pelo tempo de luta e de resistência.

Mas também pedimos perdão pela arrogância e pela insistência em achar que éramos melhores do que os outros, por todas as vezes em que fomos unilaterais, quando devíamos abraçar o diálogo e a convergência, quando decretamos que a nossa verdade era única e deixamos de olhar para os argumentos do outro.

E por conta disso, o povo não nos seguiu. Na sua imensa sabedoria, o povo constatou que nós não estávamos prontos para cuidar do seu destino, porque viu em nós arrogância, porque viu em nós intolerância, porque viu em nós verdades únicas.

Agora surge um tempo novo, onde os comunistas estão mais leves, alguns dizem que nos vendemos, que nos rendemos, capitulamos.

Aqueles que dizem isso gostariam que nós continuássemos uns eternos Che Guevara, só lutando e sonhando, deixando pra eles a administração do Estado, a abertura de estradas e de escolas.

Por isso que eles criticam as nossas alianças amplas. Eles se irritam com a nossa evolução, com a nossa capacidade de desenvolver a teoria marxista e de agir de acordo com as dobras do terreno.

Eles estão pra perder os cabelos com o nosso pragmatismo, porque, juntos com os nossos aliados aqui no Acre e também no Brasil, está fazendo a vida do brasileiro ficar melhor, com mais emprego, mais escola e mais dignidade. O povo ganha com a nossa evolução.

Estamos mais leves na ideologia, porque entendemos que a verdade é uma construção, coletiva, compartilhada. Aprendemos que partido único é aberração, num país plural e diverso, na cultura, na rica regionalidade, em todas as formas de tribos, na religião.

Partido único trazia verdade única, sindicato, igreja, cátedra e até pensamento. Tudo era único e o que fosse adverso, reflexivo, era subversivo, exclusão.

Estamos mais leves também na política, mais afeitos a ouvir e respeitar o contraditório, capazes de perceber que o adversário político de hoje pode ser o aliado de amanhã, porque não trabalhamos o personagem, mas a idéia.

Aquele que te combate hoje, pode defender tua idéia amanhã. Essa é a grande lição da coalizão política que resiste no Acre, a Frente Popular, lição que o PCdoB também aprendeu.

Vencemos nosso impulso maniqueísta, naquela eterna luta entre o bem e o mal. Nossa luta aqui é pelo bem comum, por vida digna para os acreanos. Aquele que quiser, pode a nós se juntar. Só pedimos que não olhe para trás, apenas abrace o sonho da vida digna e sustentável.

Nesses 88 anos queremos nos orgulhar, queremos refletir, queremos rezar, orar. Sim, rezar e orar, por que não? Deus não é propriedade da Opus Dei ou de qualquer teólogo. Deus agora também faz parte das nossas orações e até protege a nossa ideologia.

Nesses 88 anos queremos pedir perdão por toda dor que golpeou a humanidade, pelo tempo perdido que deixamos de lutar e de proteger os mais fracos, pela omissão, pela preguiça em ir aos bairros, às aldeias indígenas, organizar aqueles que precisam de organização, para lutar, para resistir, para amar aqueles que precisam de amor.

3 comentários:

Valterlucio disse...

Bacana Deputado. Parabéns. Considerando que todos os seus sólidos argumentos em defesa da mudança do Partido revelam princípios de coerência com a democracia e a pluralidade, que tal assinar o manifesto para que os mesmos princípios vigorem em Cuba?

conectado disse...

Na minha cabeça, sempre achei a causa do socialismo e/ou comunismo interessante do ponto de vista da ajuda humanitária. Os mais fortes amparando os mais fracos. Sempre concordei que as pessoas vivessem de forma digna e com menos desigualdade. Ocorre que a característica humana é contrária ao que prega o comunismo/socialismo. Há pessoas emprendedoras e outras não. Há pessoas que querem e outras não. Há os que querem crescer muito e os que não querem ou querem pouco. Como ajustar esse relógio? É justo estabelecer teto de crescimento a uma pessoa em favorecimento a outra que não deseja crescer na mesma proporção?. As pessoas tem objetivos de vida distintos. Acho que a decadência do socialismo e/ou comunismo está justamente aí, no fato de eles pregarem um modo de vida que vai de encontro à essência do ser humano: somos desiguais. Eles pregam igualdade a pessoas desiguais.
Prefiro seguir a esteira do pensamento de que o correto é oferecer condições para que as pessoas tenham oportunidade.
Forçar igualdade a desiguais, não rolou, não rola, nem vai rolar.

conectado disse...

O blog é o substituto do antigo diário. A diferença é que, no diário, os assuntos são de conteúdo íntimo e com conotação secreta. Já no Blog, as informações são públicas, não se podendo escrever tudo aquilo que vem do pensamento.
Outra diferença é que o blog dar a opção de compartilhamento das ideias e pensamentos.
É esse item que me chama a atenção. O blog é um testador natural do nível de democracia que temos dentro de nós. Quando um anônimo ou pessoa identificada faz um comentário, ele passa pelo centro de criticidade do dono do blog, como filtro, e, se aprovado, postado nos comentários. Pois bem, aí é que sabemos o nível de democracia (tolerância ao contraditório e à critica) de cada pessoa, pois ela tem o poder na mão de postar ou vetar o comentário. Isso significa o seguinte: ser democrático não é bater no peito e dizer que é, mas ter o poder na mão para impedir uma crítica, um comentário (desde que não seja ofensivo) diferente do seu e mesmo assim não o veta. Posta. Porque cobrar democracia e liberdade de espressão dos outros é fácil e simplista.
Da mesma forma ocorre com os governos.