quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

DO MEU TEMPO DE CRIANÇA



Olá, Moisés,

Li em seu blog a aventura ao Jordão. Algumas passagens me trouxeram suaves lembranças das vezes que fiz, apesar de pequeno, aquela viagem. Só que, em meu caso, um pouco mais perto, pois meu pai, falecido em 2007 aos 87 anos, começou morando no Jordão, depois desceu para o seringal Duas Nações e, por último para o Seringal Atenas, onde nasci, até chegarmos (11 filhos) em Tarauacá em 1976, aos 10 anos. Literalmente aos trancos e barrancos. Pois me lembro que o motor falhou algumas vezes e o batelão colidia com o barranco do rio.
 
Na época, nosso patrimônio era apenas nós mesmos, pois até a canoa que nos trouxe não era nossa. Até para sairmos das mãos do patrão foi difícil. Precisou meu pai matar 3 onças para, com o couro delas, pagar a infindável dívida que tínhamos com ele, e ainda deu para pagar a locomoção do batelão até Tarauacá, onde fomos trabalhar e morar de favor em uma olaria.
 
Já em Tarauacá, como minha irmã morava no Seringal Sacado, nas férias, a gente viajava para lá. E era a coisa mais maravilhosa do mundo. E tínhamos a mesma sensação que você (com o perdão do tratamento) teve. Mas na época era melhor, pois era tudo verde, intacto, muita caça e peixe, não havia desmatamento. Pena que as pessoas não tenham vivido essas maravilhas. Apesar de sofrido, é prazeroso. Quem só curte a urbanidade, jamais saberá e entenderá o frescor, a paz de espírito e a sensação de segurança que a mata nos proporciona.
 
Em 1986, fui aluno seu no colégio Djalma da Cunha Batista, em Tarauacá. Por incrível que pareça, ainda me lembro de uma discussão que você teve com uma aluna. No meio da aula, o assunto descambou e você começou a falar de superstição, e ela reclamou que aquilo não fazia parte da aula. E rolou um pequeno stress. Ainda lembra?
 
Hoje sou major do Corpo de Bombeiros Militar (Comandante Operacional de Rio Branco). Visitando seu Blog, lendo aquele assunto recorrente e que remonta minha história, não resisti, resolvi relembrar! Hoje ajudo as pessoas salvando-as, mas gostaria muito de ajudá-las também dessa forma: viajando pelos seringais. Ninguém no mundo merece mais atenção do que uma pessoa que não tem nada. E nada é mais gratificante do que receber um bom dia e um agradecimento de uma pessoa humilde.
 
Grande abraço,
 
Albeci Coelho








Um comentário:

conectado disse...

A ingenuidade, a sinceridade e a espontaneidade estão sendo agonizadas pelas mentiras e pela virtualidade da vida contemporânea.
No mundo atual, não cabe mais se dizer a verdade. A exceção são os povos da floresta, que ainda conseguem viver num mundo real. Pelo menos até quando exista floresta.
A cada dia, como prega a teoria, o mundo caminha para o caos, e para o fim.